quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

@ Caim (na arca de noé)

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Entretanto, porém, uma das noras de noé, a mulher de cam, havia morrido num acidente. Ao contrário do que deixámos antes dito ou dado a entender, havia uma grande necessidade de mão-de-obra na barca, não de marinheiros, é certo, mas de pessoal de limpeza. Centenas, para não dizer milhares de animais, muitos deles de grande porte, enchiam a abarrotar os porões e todos cagavam e mijavam que era um louvar a deus. Limpar aquilo, baldear toneladas de excrementos todos os dias era uma duríssima prova para as quatro mulheres, uma prova física em primeiro lugar, pois dali saíam exaustas as pobres, mas também sensorial, com aquele insuportável fedor a merda e urina que traspassava a própria pele.

Foi num desses dias de tempestade desabalada, com a arca a ser sacudida pela tormenta e os animais a atropelarem-se uns aos outros, que a mulher de cam, tendo escorregado no chão imundo, foi acabar sob as patas de um elefante. Lançaram-na ao mar tal como se encontrava, ensanguentada, suja de excrementos, um mísero despojo humano sem honra nem dignidade. Por que não a limparam antes, perguntou caim, e noé respondeu, Vai ter muita água para se lavar. A partir deste momento e até ao final da história, caim irá odiá-lo de morte.

Diz-se que não há efeito sem causa nem causa sem efeito, parecendo portanto que as relações entre uma coisa e outra deverão ser em cada momento, não só patentes, mas compreensíveis em todos os seus aspectos, quer consequentes quer subconsequentes. Não nos arriscamos a sugerir que deva ser incluída neste quadro geral a explicação da mudança de atitude da mulher de noé. Pode ela ter pensado simplesmente que, faltando a mulher de cam, outra deveria ocupar o seu lugar, não para acolitar o viúvo nas suas noites agora solitárias, mas para recuperar a harmonia antes vivida entre as fêmeas mais novas da família e o hóspede caim, ou, por palavras mais claras e directas, se antes ele tinha três mulheres à sua disposição, não havia nenhum motivo para que não continuasse a tê-las. Mal sabia ela que na cabeça do homem rondavam ideias que tornavam absolutamente secundária a questão. Em todo o caso, como uma coisa não empata a outra, caim acolheu com simpatia os avanços dela, Aqui onde me vês, apesar da idade, que já não é a da primeira juventude, e tendo parido três filhos, ainda me sinto muito apetecível, e tu que achas, caim, perguntara ela. Havia muito tempo que deixara de chover, a enorme massa de água entretinha-se agora a macerar os mortos e a empurrá-los docemente, no seu eterno balanceio, para a boca dos peixes. Caim tinha assomado à janela para ver o mar que resplandecia sob a lua, havia pensado um pouco em lilith e em seu filho enoch, ambos mortos, mas de uma maneira distraída, como se não lhe importasse muito, e foi então que ouviu sussurrar ao seu lado, Aqui onde me vês.

Dali foram, ele e ela, para o cubículo onde caim costumava dormir, não esperaram sequer que noé, já entregue aos braços de morfeu, se ausentasse do mundo, e, quando acabaram, o homem teve de reconhecer que a mulher tinha razão no juízo que sobre si própria havia feito, ainda estava ali para lavar e durar, e mostrava ter, em certos momentos, uma experiência acrobática a que as outras não haviam conseguido chegar, fosse por falta de vocação natural, fosse por inibição causada pela actuação tradicional dos respectivos maridos.

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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Alcoolémia...

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Em tertúlia com amigos mais novos, fiquei altamente surpreendido quando um deles, de uma geração diferente, afirmou ter ouvido uma música de uns tais de
Alcoolemia cujos temas seu pai também conhecia.
Ora, eu que ainda agora dobrei os trinta, senti um palpitar de coração atípico. Afinal, um dos seus temas, "Quero protestar" dos álbuns "
Não há tretas" e o acústico "até Onde" é um dos hinos da minha adolescência.
O amigo em questão não se referia a este, até porque não o conhecia, mas ao tema "Portugal, o nosso País" que integrava os mesmos dois álbuns e cuja letra adoptamos em tempos como o hino do Portugal moderno...
Ficou a nostalgia... Começo a sentir-me velho, mas cheio de substância...



#27 of 365 @ flickr

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Jazz Baltica, apesar de não ser o tempo...

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O programa radiofónico, "um toque de jazz", transmitido aos domingos à noite pela Antena 2 e com apresentação de Manuel Jorge Veloso, tem vindo, ao longo das últimas semanas, a transmitir performances gravadas nas mais recentes edições do festival de jazz de Schloss Salzau (Salzau Palace), o famosíssimo Jazz Baltica.
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ligação para o programa "um toque de jazz"
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Curiosamente,
John Hollenbeck, exímio e afamado percussionista e uma das minhas fontes de informação Jazz no twitter, publicou também muito recentemente no seu canal do You Tube quatro performances do Quinteto "The Claudia", o qual incorpora, na edição 2009 do festival Jazz Baltica... A ver:

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#26 of 365 @ flickr

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#26 of 365, upload feito originalmente por José_Eduardo.

#25 of 365 @flickr

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#25 of 365, upload feito originalmente por José_Eduardo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

juizos de valor

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Precisava de um burro, ainda que tivesse de o roubar, mas nós, que o vamos conhecendo cada vez melhor, sabemos que não o fará. Apesar de assassino, Caim é um homem intrinsecamente honesto, os dissolutos dias vividos em contubérnio com lilith, ainda que censuráveis do ponto de vista dos preconceitos burgueses, não foram bastantes para perverter o seu inato sentido moral da existência, haja vista o corajoso enfrentamento que tem mantido com deus, embora, forçoso é dizê-lo, o senhor nem de tal se tenha apercebido até hoje, salvo se se recorda a discussão que ambos travaram diante do cadáver ainda quente de Abel.
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fotografia: José Eduardo
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sábado, 23 de janeiro de 2010

inverso

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by José Eduardo
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#23 of 365 @flickr

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"Gabriela, Cravo e canela" de Jorge Amado

...à espera de ser lido!!!
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#23 of 365
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Complementado com meio copo de vinho ou um chazinho maçã-canela... Ideias!!!
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

@ caim

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Então viram um grande ajuntamento de homens em frente à casa de lot, os quais gritavam, Queremos esses que tens aí, manda-os cá para fora porque queremos dormir com eles, e davam golpes na porta, ameaçando deitá-la abaixo. Disse abraão, Vem comigo, damos a volta à casa e chamamos ao portão das traseiras. Assim fizeram. Entraram quando lot, por trás da porta da frente, estava a dizer, Por favor, meus amigos, não cometam um crime desses, tenho duas filhas solteiras, podem fazer o que quiserem com elas, mas a estes homens não façam mal porque eles procuraram protecção na minha casa. Continuaram os de fora furiosamente aos gritos, mas de repente os clamores mudaram de tom e agora o que se ouvia eram lamentações e choros, Estou cego, estou cego, era o que diziam todos, e perguntavam, Onde está a porta, aqui havia uma porta e já não está. Para salvar os seus anjos de serem brutalmente violados, destino pior que a morte segundo os entendidos, o senhor havia cegado a todos os homens de sodoma sem excepção, o que prova que, afinal, nem dez inocentes havia em toda a cidade. Dentro de casa os visitantes diziam a lot, Vai-te deste lugar com todos aqueles que te pertencerem, filhos, filhas, genros, e tudo o mais que tiveres nesta cidade porque nós viemos para a destruir. Lot saiu e foi avisar os que estavam para ser seus futuros genros, mas eles não acreditaram e riram-se do que julgaram ser uma brincadeira. Era já madrugada quando os mensageiros do senhor tornaram a insistir com lot, Levanta-te e leva daqui para fora a tua mulher e as tuas duas filhas que ainda estão contigo se não queres ser também apanhado pelo castigo da cidade, não é essa a vontade do senhor, mas é o que inevitavelmente sucederá se não nos obedeceres. E, sem aguardar resposta, agarraram-no pela mão, a ele, à mulher e às duas filhas, e levaram-nos para fora da cidade. Abraão e caim foram com eles, mas não os acompanhariam às montanhas como os demais estiveram a ponto de fazer por conselho dos mensageiros, se não fosse lot ter pedido que os deixassem ficar numa pequena cidade, quase uma aldeia, chamada zoar. Vão, disseram os mensageiros, mas não olhem para trás. Lot entrou na cidadezinha quando o sol estava a nascer. O senhor fez então cair enxofre e fogo sobre sodoma e sobre gomorra e a ambas destruiu até aos alicerces, assim como a toda a região com todos os seus habitantes e toda a vegetação. Para onde quer que se olhasse só se viam ruínas, cinzas e corpos carbonizados. Quanto à mulher de lot, essa olhou para trás desobedecendo à ordem recebida e ficou transformada numa estátua de sal. Até hoje ainda ninguém conseguiu compreender por que foi ela castigada desta maneira, quando tão natural é querermos saber o que se passa nas nossas costas. É possível que o senhor tivesse querido punir a curiosidade como se se tratasse de um pecado mortal, mas isso também não abona muito a favor da sua inteligência, veja-se o que sucedeu com a árvore do bem e do mal, se eva não tivesse dado o fruto a comer a adão, se não o tivesse comido ela também, ainda estariam no jardim do éden, com o aborrecido que aquilo era. No regresso, por casualidade, detiveram-se por um momento no caminho onde abraão tinha falado com o senhor, e aí caim disse, Tenho um pensamento que não me larga, Que pensamento, perguntou abraão, Penso que havia inocentes em sodoma e nas outras cidades que foram queimadas, Se os houvesse, o senhor teria cumprido a promessa que me fez de lhes poupar a vida, As crianças, disse caim, aquelas crianças estavam inocentes, Meu deus, murmurou abraão e a sua voz foi como um gemido, Sim, será o teu deus, mas não foi o delas.
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peculiar ways

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Caminhos que marcam, que traçam destinos... caminhos...
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

#21 of 365 @flickr

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rising...
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Baby Elephant Walk

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...há quem afirme não gostar de Jazz!!!

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Luar na Lubre sem Rosa Cedrón

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Foi já em 2005 que Rosa Cedrón deixou o grupo "folk" Galego Luar na Lubre e a coisa nunca mais foi a mesma. Tanto para uma como para outros, a falta de ambos a cada um deles fez com que jamais, e a partir daí, se despertassem mais paixões como as que haviam cativado outrora.
Confesso que me apercebi demasiado tarde do acontecimento mas, apaixonado que sou pelo território Noroeste Ibérico e seus costumes, logo me saltou à vista (sim, também!) e ao ouvido. O Grupo perdeu não só o virtuosismo daquela frescura física e irreverente da belíssima Rosa Cedrón mas também o poder sonoro da sua voz e a perfeita complementarização desta com as raízes "Galaicas".
Quanto a Rosa, foi só em 2007 que lançou a sua aventura "a solo". O álbum "Entre dous mares" prometia muito daquilo que a bela menina nos tinha habituado mas não passou daí. Apesar de acarinhado pela crítica (e não é isso que ponho em causa), A música de Rosa Cedrón mudou completamente e passou para algo que, apesar de melodioso, jamais apresentará a força sonora e representatividade cultural daquilo que amávamos nela!
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

#19 of 365 @flickr


#19 of 365, upload feito originalmente por José_Eduardo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

#18 of 365 @flickr

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Hoje, após o trabalho, fui à feira do Livro que decorre na Fundação Cupertino de Miranda, à Avenida da Boavista no Porto... A magia dos livros era complementada por algumas relíquias "ancestrais" que por lá se iam encontrando como esta publicação gastronómica de 1963...
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domingo, 17 de janeiro de 2010

sábado, 16 de janeiro de 2010

Lido... como que ouvido, e sorvido!!!

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Já as pálpebras tinham começado a pesar-lhe quando uma voz juvenil, de rapaz, o fez sobressaltar, O pai, chamou o moço, e logo uma outra voz, de adulto de certa idade, perguntou, Que queres tu, isaac, Levamos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a vítima para o sacrifício, e o pai respondeu, O senhor há-de prover, o senhor há-de encontrar a vítima para o sacrifício. E continuaram a subir a encosta. Ora, enquanto sobem e não sobem, convém saber como isto começou para comprovar uma vez mais que o senhor não é pessoa em quem se possa confiar. Há uns três dias, não mais tarde, tinha ele dito a abraão, pai do rapazito que carrega às costas o molho de lenha, Leva contigo o teu único filho, isaac, a quem tanto queres, vai à região do monte mória e oferece-o em sacrifício a mim sobre um dos montes que eu te indicar. O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que significa que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôr os arreios no burro, preparou a lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho para o lugar que o senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho isaac. No terceiro dia da viagem, abraão viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narrador desta história, significa traiçoeira, pérfida, aleivosa, desleal e outras lindezas semelhantes. Chegando assim ao lugar de que o senhor lhe tinha falado, abraão construiu um altar e acomodou a lenha por cima dele. Depois atou o filho e colocou-o no altar, deitado sobre a lenha. Acto contínuo, empunhou a faca para sacrificar o pobre rapaz e já se dispunha a cortar-lhe a garganta quando sentiu que alguém lhe segurava o braço, ao mesmo tempo que uma voz gritava, Que vai você fazer, velho malvado, matar o seu próprio filho, queimá-lo, é outra vez a mesma história, começa-se por um cordeiro e acaba-se por assassinar aquele a quem mais se deveria amar, Foi o senhor que o ordenou, foi o senhor que o ordenou, debatia-se abraão, Cale-se, ou quem o mata aqui sou eu, desate já o rapaz, ajoelhe e peça-lhe perdão, Quem é você, Sou caim, sou o anjo que salvou a vida a isaac. Não, não era certo, caim não é nenhum anjo, anjo é este que acabou de pousar com um grande ruído de asas e que começou a declamar como um actor que tivesse ouvido finalmente a sua deixa, Não levantes a mão contra o menino, não lhe faças nenhum mal, pois já vejo que és obediente ao senhor, disposto, por amor dele, a não poupar nem sequer o teu filho único, Chegas tarde, disse caim, se isaac não está morto foi porque eu o impedi. O anjo fez cara de contrição, Sinto muito ter chegado atrasado, mas a culpa não foi minha, quando vinha para cá surgiu-me um problema mecânico na asa direita, não sincronizava com a esquerda, o resultado foram contínuas mudanças de rumo que me desorientavam, na verdade vi-me em papos-de-aranha para chegar aqui, ainda por cima não me tinham explicado bem qual destes montes era o lugar do sacrifício, se cá cheguei foi por um milagre do senhor, Tarde, disse caim, Vale mais tarde que nunca, respondeu o anjo com prosápia, como se tivesse acabado de enunciar uma verdade primeira, Enganas-te, nunca não é o contrário de tarde, o contrário de tarde é demasiado tarde, respondeu-lhe caim. O anjo resmungou, Mais um racionalista, e, como ainda não tinha terminado a missão de que havia sido encarregado, despejou o resto do recado, Eis o que mandou dizer o senhor, Já que foste capaz de fazer isto e não poupaste o teu próprio filho, juro pelo meu bom nome que te hei-de abençoar e hei-de dar-te uma descendência tão numerosa como as estrelas do céu ou como as areias da praia e eles hão-de tomar posse das cidades dos seus inimigos, e mais, através dos teus descendentes se hão-de sentir abençoados todos os povos do mundo, porque tu obedeceste à minha ordem, palavra do senhor. Estas, para quem não o saiba ou finja ignorá-lo, são as contabilidades duplas do senhor, disse caim, onde uma ganhou, a outra não perdeu, fora isso não compreendo como irão ser abençoados todos os povos do mundo só porque abraão obedeceu a uma ordem estúpida, A isso chamamos nós no céu obediência devida, disse o anjo. Coxeando da asa direita, com um mau sabor de boca pelo fracasso da sua missão, a celestial criatura foi-se embora, abraão e o filho também já lá vão a caminho do lugar onde os esperam os criados, e agora, enquanto caim ajeita os alforges no lombo do jumento, imaginemos um diálogo entre o frustrado verdugo e a vítima salva in extremis.
Perguntou isaac, Pai, que mal te fiz eu para teres querido matar-me, a mim que sou o teu único filho, Mal não me fizeste, isaac, Então por que quiseste cortar-me a garganta como se eu fosse um borrego, perguntou o moço, se não tivesse aparecido aquele homem para segurar-te o braço, que o senhor o cubra de bênçãos, estarias agora a levar um cadáver para casa, A ideia foi do senhor, que queria tirar a prova, A prova de quê, Da minha fé, da minha obediência, E que senhor é esse que ordena a um pai que mate o seu próprio filho, É o senhor que temos, o senhor dos nossos antepassados, o senhor que já cá estava quando nascemos, E se esse senhor tivesse um filho, também o mandaria matar, perguntou isaac, O futuro o dirá, Então o senhor é capaz de tudo, do bom, do mau e do pior, Assim é, Se tu tivesses desobedecido à ordem, que sucederia, perguntou isaac, O costume do senhor é mandar a ruína, ou uma doença, a quem lhe falhou, Então o senhor é rancoroso, Acho que sim, respondeu abraão em voz baixa, como se temesse ser ouvido, ao senhor nada é impossível, Nem um erro ou um crime, perguntou isaac, Os erros e os crimes sobretudo, Pai, não me entendo com esta religião, Hás-de entender-te, meu filho, não terás outro remédio, e agora devo fazer-te um pedido, um humilde pedido, Qual, Que esqueçamos o que se passou, Não sei se serei capaz, meu pai, ainda me vejo deitado em cima da lenha, amarrado, e o teu braço levantado, com a faca a luzir, Não era eu quem estava ali, em meu perfeito juízo nunca o faria, Queres dizer que o senhor enlouquece as pessoas, perguntou isaac, Sim, muitas vezes, quase sempre, respondeu abraão, Fosse como fosse, quem tinha a faca na mão eras tu, O senhor havia organizado tudo, no último momento interviria, viste o anjo que apareceu, Chegou atrasado, O senhor teria encontrado outra maneira de te salvar, provavelmente até sabia que o anjo se ia atrasar e por isso fez aparecer aquele homem, Caim se chama ele, não esqueças o que lhe deves, Caim, repetiu abraão obediente, conheci-o ainda não eras nascido, O homem que salvou o teu filho de ser degolado e queimado no molho de lenha que ele próprio havia trazido às costas, Não o foste, meu filho, Pai, a questão, embora a mim me importe muito, não é tanto ter eu morrido ou não, a questão é sermos governados por um senhor como este, tão cruel como baal, que devora os seus filhos, Onde foi que ouviste esse nome, A gente sonha, pai...
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#16 of 365 @flickr

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Strange birds near home!!!

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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Jazz album...

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"Paris/London Testament" é o novo disco de Keith Jarret editado pela ECM, e é triplo...
Em fase de "aquisição" para apreciação!!! Fica, por enquanto, o "overview no site Brasileiro
SOJAZZ...
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#15 of 365... visual clutter no flickr

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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

"faze"

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Mistura de "fog" com "haze"
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Edição fotográfica:
Registo "RGB" capturado desde a Rua Almeiriga Norte, no Cabo do Mundo, Perafita, Matosinhos;
Passagem a preto e branco por duplicação de layer em photoshop e aplicação de "adjustment layer" em modo "gradient map" de preto para branco e posterior acerto de "blending mode" para "color";
Acentuação de contrastes com edição de "levels" (ligeira aproximação das agulhas de extremos);
Contrastes acentuados do céu utilizando a "gradient tool" sobre uma "blank top layer" e posterior acerto de "blending mode" para "overlay";
Posterior necessidade de apagar com "eraser tool" toda a zona de mar nessa "top layer" (porque estava com bons tons antes da edição) e ainda a zona das chaminés.
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

incoerência temporal

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Cá por casa ainda é natal...
Afinal, é quando um homem quer!!!
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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sonhando dentro do mundo real...

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Porquê a tristeza?.. Porquê a revolta?.. Porquê a guerra?.. Custa assim tanto voltar as costas à adversidade e ser feliz?
José Eduardo
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#11 of 365


#11 of 365, upload feito originalmente por José_Eduardo.

...e porque há muito não tocava no assunto!

A causa que jamais abandonarei!!!

Funeral by friend from Guina Photo on Vimeo.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Titubeação num dia frio e chuvoso

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Ao fim de dez dias, o balanço que faço da iniciativa de compromisso assumido no flickr é francamente mau. Não é fácil fazer e publicar uma fotografia apenas porque a tal se é obrigado. Com certeza o faria com o maior prazer se fosse jornalista ou viajante, porque a abundância de assunto e motivo enriquece e alimenta a criatividade mas no quotidiano de um mero "proletário" essa saturação motivacional simplesmente não acontece... A saturação é oposta, desmotivacional, inerente ao cansaço das obrigações rotineiras e, no meu caso, os trabalhos fotográficos "fabricados" têm sido resultado de aplicação de ideias técnicas ou criativas que vou assimilando diariamente. Digo fabricadas porque são essas as fotografias que me vão alimentando a vontade. São aquelas cujo resultado pode ser avaliado segundo a efectividade de cumprimento ou não dos requisitos previamente propostos.
Sei que por diversas vezes são aqueles tiros de sorte a que nos propomos no imediato que acabam por nos encher as medidas e ficar orgulhosos da nossa capacidade intrínseca de fotógrafos. A expressão ou acontecimento bem captados, o enquadramento que não foi pensado mas que resultou em pleno e nos faz acreditar que estamos a melhorar sem dar por isso, bem sei... Mas ainda me vou sentindo todos os dias com vontade para aprender mais um pouco do muito que ainda não sei (que não se entenda por falsa modéstia)...
Voltando ao assunto, o que me tem maçado sobremodo é o facto de, não tendo diariamente a disponibilidade para preparar uma situação de "estúdio" (no caso de registos pensados e caseiros) ou sair para um photowalk solitário, acabe por ter de publicar uma fotografia banal e de registo imediato e irreflectido simplesmente porque me obriguei a isso... Juro que mesmo que, visualmente, a fotografia represente um resultado visual apelativo para quem vê, a mim não me satisfaz...
Vai daí estou neste dilema situacional... Se fique ou se vá, se pare ou continue, se ceda ou se force... Optarei por manter a estratégia que me tem parecido irracional, confiando assim no conhecimento alheio que professa um aumento das capacidades de forma irreflectida... Veremos!!!
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sábado, 9 de janeiro de 2010

The modern sound of Nicola Conte

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Já por cá tenho o último álbum deste grande senhor Italiano do Jazz. "the Modern sound of Nicola Conte" é o que vai girando sobre o prato do gramofone e ecoando pelas paredes de casa ao longo dos últimos dias.
Em mais um trabalho de colaboração com inúmeros artistas da cena "jazzistica internacional" como o Americano
Mark Murphy, a Japonesa Maki Mannami e a Brasileira Sabrina Malheiros entre tantos outros, Nicola Conte montou desta vez uma espécie de álbum "escolha-você-de-acordo-com-o-seu-estado-de-espírito"... Sendo composto por dois CD´s, o primeiro apresenta-se como uma revisitação à velha mistura "Bossa-Jazz" bem característica de Conte que resulta numa suavidade ritmada que nos põe a bater o pé e estalar os dedos mas sem que nos apeteça levantar da cadeira ou do sofá. Já o segundo CD aborda por inteiro o "nu-jazz" que o tem vindo a envolver nos tempos mais recentes e que tão bons resultados tem apresentado!!!
Fica um cheirinho...
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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

hoje...

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Na A.R...
Decidir-se-á o sol na vida de tanta Gente!!!
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Quando não se tem atenção ao que se diz...

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Alguns deputados da direita parlamentar Portuguesa começam a apontar o dedo à proposta de Lei que será amanhã apresentada à discussão pelo governo visando a legalização dos casamentos entre indivíduos do mesmo sexo. Esse apontar de dedo assenta em argumentos de que a forma encontrada para impedir a adopção por parte dos referidos indivíduos, incluindo um artigo discriminatório na lei do casamento, nada mais é do que um preparar terreno para que num futuro próximo o referido artigo seja avaliado pela sua inconstitucionalidade e simplesmente removido.
Ora, confesso que não me tinha passado tal pela cabeça mas... A ser verdade, acho puramente genial!!! Se este é o caminho para lutar contra a tacanhez generalizada do povo do meu país, então há que segui-lo sem olhar para trás.
Tenho lido, ao longo dos últimos meses, muitas argumentações de ambas as partes e, embora confessando que jamais mudaria de opinião neste assunto, muitos escritos contra tenho assimilado e, dessa forma, tenho sentido vergonha extrema pelo pensamento de Portugal. É deveras impressionante a facilidade com que se tem contrariado a boa vontade da lei que se antevê simplesmente assentando opiniões em discriminação homofóbica que vai chegando pelo método de histeria parva e abdicando de argumentação. É a velha história do direito natural ou instituído que muitos não ousam questionar! Neste caso da jogada política que se aponta ao governo, é curioso ver como o argumento apresentado é precisamente o que deveria legitimar a lei ou seja, a inconstitucionalidade da discriminação. Ao preverem a queda do artigo que impede a adopção por tal motivo, não questionando esse mesmo motivo, estão a legitimá-lo...
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Community Living

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

The Cool winners are...

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O site "OPortoCool", Guia de estilo urbano online, promoveu ao longo das últimas semanas uma votação para eleger os Hot Spots da Cidade em 2009. Durante duas semanas, os web surfers habituais e outros convidados puderam eleger o que de melhor há na Capital Nortenha nas categorias Coolest Café-Brunch, Coolest Shops-Fashion, Coolest Shops-Design, Coolest After-Work, Coolest Dinner e Coolest After-Dark...

A vasta difusão da iniciativa nas redes sociais (twitter, Facebook, etc) não apenas por parte dos proprietários do site mas também por intermédio da simpatia e mobilização de uma enorme nuvem de seguidores, fez com que a participação nesta sondagem atingisse números bem simpáticos para o meio. Também a prosperidade do sentimento anti centralista que se tem sentido ultimamente terá contribuído com a sua quota parte de remetência...

Os resultados da votação estão aqui.
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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Let's play together...

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(...) E, em terceiro lugar, não foi por terem desobedecido à ordem de deus que adão e eva descobriram que estavam nus. Nuzinhos, em plena pelota extreme, já eles andavam quando iam para a cama, e se o senhor nunca havia reparado em tão evidente falta de pudor, a culpa era da sua cegueira de progenitor, a tal, pelos vistos incurável, que nos impede de ver que os nossos filhos, no fim de contas, são tão bons ou maus como os demais. (...)
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in: "Caim" de José Saramago, (2009)
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domingo, 3 de janeiro de 2010

Mandar na vida dos outros

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Dói-me profundamente ver que o povo do meu país se interessa tanto por manter alguém no sofrimento apenas porque sim. Digo isto depois de ler a notícia do JN de hoje que dá conta de que uma auto-denominada "Plataforma Cidadania e Casamento" reuniu já mais de 75000 assinaturas em favor de uma petição que exige a consulta popular em referendo acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Dou comigo a tentar perceber quais os pontos negativos que ocorrerão contra a sociedade Portuguesa no caso de dois homens ou duas mulheres se casarem e, francamente, não encontro nenhum. Encontro, aliás, vários aspectos positivos como a possibilidade de legalizar judicialmente uma união afectuosa já existente e daí advir a possibilidade de usufruir das regalias que a um casal assiste em Portugal. Acima de tudo vejo aqui a possibilidade de milhares de cidadãos Portugueses poderem passar a encarar a vida com um sorriso no rosto a cada manhã que acordam junto à pessoa que amam e com a qual lhes foi possível casar.

Dou depois comigo a enfrentar um sentido de revolta ao constatar a não argumentação racional de quem acha que um ser homossexual não deve nem pode casar simplesmente porque... porque não!!!

Nunca fui contra a consulta popular. Sou aliás um acérrimo defensor dessa prática nas questões que dizem respeito à sociedade e ao seu funcionamento quotidiano. Em questões que pela sua natureza "fracturante" possam levar a que alguma das facções de pensamento entenda no acto que a integridade física e/ou moral de um indivíduo possa ser posta em causa. Mas desta vez sou contra... Costumo dizer que:

"Não é por a maioria decidir em referendo matar alguém que o sentido democrático vai legitimar a questão"

Por isso... Parem lá com a histeria homofóbica e deixem reinar o Amor!!!

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A mensagem do Sr. Cavaco...

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Não é que alguma vez espere algo bom do senhor que o povo escolheu para presidente da República mas, fiquei deveras decepcionado (não surpreendido) com o facto de, no seu discurso mais cáustico desde que foi eleito, não ter apontado qualquer questão social (ou a falta delas) como flagelo nacional!!!
Dir-me-ão os mais atentos que o Cavaco até falou na necessidade de aumentar os empregos... Pois foi sim senhor, mas rebobinem lá o discurso e vejam em que contexto o fez... Meramente económico, apresentando o desemprego como um péssimo indicador económico para o país e nunca como flagelo social...
Para quando a mudança de ideais dos políticos do mundo? Há dias alguém dizia que a assembleia da república Portuguesa era maioritariamente constituída por indivíduos acéfalos (referindo-se à concubinagem política que orientam para os seus partidos), eu começo a achar que a caracterização se alastra à política mundial com particular incidência na Portuguesa. Será assim tão difícil perceber que as políticas económicas só fazem sentido se visarem a justiça e equilíbrio sociais?
Há depois as contradições: Como pode o Sr Cavaco apertar com governo e assembleia da república para que se resolvam os problemas que levaram a justiça portuguesa ao descrédito e logo de seguida gabar a actuação dos Juízes?
É o que já se esperava dele... Não aguentaria muito tempo na sombra...
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sábado, 2 de janeiro de 2010

You say it best...

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...when you say nothing at all!!!
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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O meu "365 Photo Assignment"

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Assumi hoje, no Flickr, a tarefa de me empenhar durante todo o ano de 2010 num projecto fotográfico pessoal que visa melhorar as minhas capacidades técnicas e criativas na fotografia. O "365 photo assignment" consiste em publicar uma fotografia por dia e em todos os dias do ano. É uma forma de atingir patamares superiores de qualidade técnico-criativa e que tem já provas dadas. Isto, obviamente, desde que haja sentido crítico e empenho por parte de quem o assume. Da minha parte, sabendo de antemão que é difícil cumprir a tarefa à risca (e como o foi já no primeiro dia), fica a promessa de dar o melhor em prole da sua conclusão. Obviamente não viverei em função disso mas, por certo, dar-lhe-ei a atenção merecida!!!
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